terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha: Luta Civil – Mentiras e Piadas

Vivemos tempos áureos de democracia se for olhar para trás e ver tudo o que foi feito por movimentos sociais. E ainda temos muito que fazer para chegar a um nível democrático bom para todos. É nesse sentido que se dá a luta civil. Luta civil pode ser qualquer reunião de pessoas que tem uma reivindicação (uma agenda) em comum. É com esse entusiasmo que se dá o Luta Civil, banda de punk na ativa desde 2011. E em 2014, Leo Moraes (guitarra e vocal), Maurício Martins (baixo e vocal) e Eduardo Coes (bateria) lançam seu primeiro álbum, “Mentiras e Piadas”.

Começando com “nananana, iêiêiêiê,laialaialaialaia, uôuôuôuô” indagam “POP pra quê?”, pois “escutar sem refletir/cria um bando de alienados/cérebros cheios de merda”. Letra ácida, musica rápida, com a pegada bem punk clássico. Em seguida “Eu quero (Trilha Sonora Rock n’ Roll)” tem uma levada mais lenta e uma letra mais divertida, acompanha qualquer cerveja, cachaça, cigarro ou vinho seco. Na sequencia, chamada pelo baixo, a musica titulo do álbum “Mentiras e Piadas”, solos de guitarra totalmente fora de padrões musicais midiáticos, boa sequencia para a letra que denuncia esse bando de bons mocinhos business/funcionários do mês que dão até vontade de vomitar.

“Dependência” é mais hardcore, mais agitada, mais rápida, mais curta, mais agressiva, mais violenta, mais anti-emprego, mais me deixou sem fôlego. E depois da pogação gerada por dependência vem “Mosh”, com uma sonoridade mais engraçada, e lenta, mas que com o passar do tempo a velocidade vai crescendo, crescendo, até chegar no refrão e “Abra os braços, preste atenção!/Se cair, não passa do chão!/Ter coragem é para quem pode/Pula aí e vê se não morre”.

Na sequencia e voltando a botar o dedo na ferida, “Outra Resposta” vem para questionar o comportamento para o pensamento escroto da maioria das pessoas, “Dinheiro para comprar/Mulheres para sair/Carros para correr/Drogas para usar”. Tudo isso ainda, na pegada punk rock. “Inaceitável” vem rápida e agressiva, bem no sentimento de levantar o dedo do meio para o sistema.

“Noticias do Fim Novamente”, para mim, é a musica do álbum, uma batida mais lenta, voz um pouco mais melodiosa, letra muito bem trabalhada, refrão cativante.

“Lutar, viver, sofrer, sonhar
Vivendo por alguns minutos
Ideias para construir uma razão sem se perceber
Nos vomitam novas teorias de miséria e fome
Enquanto alguns carregam um grande peso em suas costas
Esperando por um prometido paraíso ao lado de Deus

Daqui se vê um grande temporal
Com nuvens negras vindo em nossa direção
Saiam das ruas, fechem às portas
Esperem por notícias hoje na TV

Miséria e caos, MST
Sempre foi muito mais fácil não pensar
Agricultura, economia nunca fizeram muito parte da sua vida
Agora fale suas bobagens para todo mundo rir!

Se eu te perguntar sobre quem é você
Será que você vai saber o que dizer?
Nada mudou, somos novos moralistas”

Chamada pela bateria, “Lixo Humano” vem rápido a anunciar o nosso desprezo pelos menos afortunados. Quantos de nós atravessam a rua ou viram os olhos quando avistamos pedintes. Contudo, eles são vitimas, muitas vezes, vitimas do que fazemos para ganhar nosso dinheiro.

“Porra nenhuma” é o que questiona nossos valores e o que realmente precisamos, será que precisamos de uma boa formação? Será que precisamos de um bom emprego? O que é uma boa formação? O que é um bom emprego? Será que precisamos de todas estas merdas para uma vida real, ou só para uma vida de mentira, uma vida alinhada ao que a “sociedade” quer que a gente seja.

E chegando ao fim do álbum, “País dos Miseráveis”, trazendo à revolta que gera essa Luta Civil, desmascarando tudo aquilo que está errado nesse país. Onde a justiça vale para uns e para outros não, onde os que mais julgam são os que mais erram.

Chegando ao final da audição temos um álbum ótimo, punk rock de primeira, letras ácidas, som rápido, guitarra suja. Registro indispensável na coleção.

Banda: Luta Civil
Disco: Mentiras e Piadas
Ano: 2014
Tempo: 28:10 min.
Faixas
1.       POP pra quê?
2.       Eu quero (trilha sonora Rock n’ Roll)
3.       Mentiras e Piadas
4.       Dependência
5.       Mosh
6.       Outra Resposta
7.       Inaceitável
8.       Notícias do Fim Novamente
9.       Lixo Humano
10.   Porra Nenhuma
11.   País dos Miseráveis

Streaming e download: http://lutacivil.bandcamp.com/

terça-feira, 22 de julho de 2014

Resenha: Meivorts – Autocontrole

Os dias vão se passando, a idade vai chegando, a correria aumentando. O tempo passa e a manipulação midiática continua. Apesar de todas as investidas da grande mídia o número de pessoas questionadoras aumenta. E o punk/hardcore desde seu inicio no final dos anos 70 teve papel fundamental. Bandas começaram, bandas terminaram, mas a resistência ainda continua. Até mesmo bandas mais novas que misturam melodia, hardcore e metal detêm o pensamento crítico para poderem contestar e não serem somente mais uma ovelha a pastar.

Nesse contexto surgi em Valinhos/SP (mais uma representante do Interior Hardcore) a banda Meivorts. Formada por Vih (v), Gui Trento (g), Diego Kirk (g), Carlos (dr) e GC (bs), lançam seu segundo EP, intitulado “Autocontrole”, gravado entre março/2014 e abril/2014 no Chapola Studio e distribuído pela Motim Records. Uma mistura de hardcore, punk e metal, com influências de bandas como Offspring e Bad Religion, com letras políticas que nos fazem pensar sobre a correria do dia-a-dia, a manipulação da mídia e dilemas pessoais.

Abrindo o disco “Chega” tem pouco tempo para introduções. A letra começa “Estamos juntos nessa,/sem forças pra dizer... /Sem forças pra lutar/ou até mesmo pra esquecer.”. Musica com uma pegada rápida, no estilo “tu-pá”, com algumas passagens grooves, mostrando uma influencia do metalcore. Guitarras muito bem trabalhadas, com solo e riffs rápidos e com bastante melodia.

“Autocontrole” é a faixa que dá titulo ao EP, e já começa com uma abertura mais “emocionada”,          só na guitarra e depois acompanhada pelos demais instrumentos. Interessante que o riff de abertura contrapõe o instrumental, que começa com uma pegada mais lenta e depois ganha velocidade. A faixa continua nessa toada, emocionada, lenta, rápida. Outro fato marcante e raro é um solinho de baixo.

A terceira faixa é a “O que vai ser então” e já vem com velocidade total. Bastante melodia e bastante tupá-tupá. Final bem rápido e pesado. Letra ótima, mensagem bem clara. Foi a faixa que mais gostei, Escutei umas pá de veiz.

“Decisões a tomar, acordos pra fazer
Milhões de vidas pra enganar
e uma imagem de inocente na TV
o que te faz pensar que eu acredito em você?
Vejo claramente a hipocrisia
transmitida pelos seus próprios erros

O que vai ser então? Devo omitir enfim?
A minha vida em vão... Caminhando para o fim”

Quarta e ultima faixa, “Preso na própria liberdade”. Seguindo na velocidade da faixa anterior, esta só cadencia no momento em que o instrumental dá espaço a voz. A faixa intercala momentos pesados, momentos cadenciados e momentos rápidos. Tudo isso em perfeita sintonia. Instrumental que encaixa perfeitamente com a mensagem da letra.

“Há muito tempo nos é imposto como devemos ser
O que usar, como vestir... sempre ditando regras!
A minha vida não é um jogo para ser apreciado
Por jogadores milionários, NÃO!

''Não há discursos e nem palavras.
Que me façam desistir.
Quando eu cair e houver flores.
Não haverá bandeira pra me cobrir.''

Vivo em muros altos e invisíveis que não tem como sair
Só há uma escolha a fazer
Aprender a viver e aceitar!
Não existe humildade, não existe compreensão
Vejo apenas falsidade e uma eterna detenção pra mim!”

Chegado ao fim da audição temos a conclusão de um EP ótimo, com boas doses de velocidade e peso, isso sem mencionar na técnica de todos os músicos envolvidos, que fortaleceram mais ainda qualidade do registro. Sem sombra de dúvidas, disco pra se ouvir todos os dias, item indispensável na coleção/HD de todo amante do gênero.

Banda: Meivorts
Disco: Autocontrole
Ano: 2014
Tempo: 11:42 min.
Faixas
1.       Chega
2.       Autocontrole
3.       O que vai ser então
4.       Preso na própria liberdade

*Link disponibilizado pela própria banda





quarta-feira, 16 de julho de 2014

Resenha: Take me Back – Risca a Faca

O movimento punk no Brasil começou nas cidades grandes, uns dizem que foi em São Paulo, outros falam que foi em Brasilia. Isso não importa muito, o que importa que a cultura punk foi disseminada por toda parte do país. Começou na capital e invadiu o interior. E é um representante do interior paulista que trago hoje. Take me Back, oriundos de Itapira, iniciaram suas atividades em 2010. Formada por Lik Galaverna (Vocal), Alemão (Guitarra), Cristiano (Baixo) e Junior Domingues (Bateria) tem “o intuito de unir a ira do punk rock com agressividade e a dureza do hardcore. Criando uma música intensa e direta”. E é nesse contexto que em 2014 lançam seu segundo EP, intitulado “Risca Faca”.

Sem muitas frescuras “Nas cegas profundezas da noite” começa trazendo a violência com velocidade ao registro. Bateria rápida, cordas pesadas e vocais grossas.  Apesar da musica curta ela tem um espaço para um solo de guitarra bem trabalhado.

“Repetição”, não tem espaço para introdução, vocal registrando sua presença desde o primeiro segundo. Essa faixa tem uma pegada mais pesada e cadenciada em seu refrão, trazendo uma influencia mais moderna. Mesmo tento um refrão cadenciado a faixa é curta e a maior parte dela tem uma pegada mais rápida.

A terceira e ultima faixa que leva o nome do registro, “Risca Faca” vem extremamente rápida, introduzida somente pela guitarra. Com um refrão muito interessante onde contrapõe bateria rápida e cordas marcando somente junto com o vocal, esta faixa se torna o grande destaque do disco.

Disco curto, com apenas 3 faixas e de curta duração. Mas um registro memorável que deixa qualquer amante do gênero feliz. Take me Back vem pra consolidar o interior como produtor de Hardcore, não perdendo em nada para as bandas da capital.

Banda: Take me Back
Disco: Risca a Faca
Ano: 2014
Tempo: 04:04 min.
Faixas
1.       Nas cegas profundezas da noite
2.       Repetição
3.       Risca faca

Streaming e download: http://takemeback.bandcamp.com/