quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Resenha – Under Bad Eyes – Small Apartments

Em dias nublados, chuvosos (e olha que ultimamente está difícil aqui para estes lados – São Paulo) eu gosto de escutar coisas mais tranquilas que o costumeiro hardcore quebra queixo que eu adoro.

Dentro desse nicho do hardcore mais “leve” eu conheci o EP “Small Apartments” da banda curitibana Under Bad Eyes. Lançado em Maio de 2014. O conjunto tem uma pegada de Hardcore Melódico com uma pitada de Emotional (mas sem ser aquela caricatura midiática, que ficou famoso durante um tempo e depois sumiu). Sem mais embolação vamos para o EP.

Abrindo o disco com “Threat”, temos uma pegada bem cadenciada que vai pela musica toda, musica curta, mas bem política. Com os dizeres “Nos tratavam como merda, e a partir do momento que geramos algum benefício, nos tornamos ouro. Ainda sei quem sou, ainda sei quem você é, ainda somos inimigos, não se engane” abaixo da letra. Já vemos para o que o quarteto vem.

“Tired Eyes” tem uma pegada mais rápida, mais próxima de um HC melódico. O mais legal desta faixa é o refrão, cantado em coro e de uma forma emocionada, depois de umas duas escutadas na faixa você começa a cantar junto.

Logo em seguida vem a faixa “God hates us”, titulo forte, melodia bem marcante. Musica mais rápida e cantada com certo quê de raiva. Outra musica com o refrão que se destaca “God hates us, but we’re still here”. Em minha opinião a melhor faixa do disco.

“A special word for you: pendantic” tem um começo bem legal com um narrador, pelo começo temos umas noção do que está por vir, e temos certeza ao ler a descrição abaixo da letra “Seus discursos habilidosos já não me enganam mais. Me sinto aliviado em não sermos nem um pouco parecidos. Nós não estamos do mesmo lado”. Todos nós estamos cansados de discursos bonitos na tevê, mas o tempo passa e o que muda?!

Chegando exatamente na metade do disco, a quinta faixa se chama “Testament”, talvez a musica mais emocionada do disco, e eu também espero que a morte não seja como subir no elevador com pessoas desconhecidas. E no encalço de “Testament” vem “Tragedy” que é um belo dedo apontado para o “erro” da nossa cena: “Devem existir mais de 1000 refrões falando contra o sofrimento animal, contra a homofobia, contra o racismo, contra o machismo, contra o capitalismo e contra tudo aquilo que consideramos errado desde os 16 anos. Qual parte nós ainda não entendemos? Precisamos decorar menos musicas e agir mais”. Sem mais a declarar.

“Die in the van not in vain”, nome inusitado, e a pegada sai um pouco do emotional para cair novamente no melódico. Musica curta, rápida, energia lá em cima.

Terminando o disco, a faixa que dá titulo ao EP “Small Apartments”. Com a pegada mais emotional, acredito que esta faixa é a angustia de quase todos quando olhamos para trás e víamos as coisas que dávamos mais valor. Conversar com os amigos, fazer a própria comida, reclamar dos empregos de merda. Sem dúvida, uma das melhores musica do disco.

Ao final, temos um EP muito bem trabalhado, tanto sonoramente quanto liricamente, as descrições abaixo da letra é um diferencial. Fácil começar a escutar, difícil é parar. Indico para todos que gostam de um som um pouco mais calmo.

Banda: Under Bad Eyes
Disco: Small Apartments
Ano: 2014
Tempo: 09:42 min.

Faixas
  1. Threat
  2. Tired Eyes
  3. God hate us
  4. A special Word for you: pendantic
  5. Testament
  6. Tragedy
  7. Die in the van, not in vain
  8. Small Apartments

Download e Streaming: http://underbadeyes.bandcamp.com/

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Resenha: Irmã Talitha – E o sentido da vida

No mundo existem varias culturas de resistência, os anarquistas, os indígenas, os sem terras, os monges, e dentre todos estes eu considero também as irmãs do convento. Muitas vezes se negando a consumir o que “mundo” oferece a elas. Nós (me incluo nessa) podemos não concordar com suas crenças e ideias, mas que é uma cultura de resistência, isso é.

Em homenagem (ou não) Irmã Talitha vem pregando o Hardcore desde 2005. De São Paulo capital, Wagner (guitarra e vocal), Chubaka (baixo) e Du (bateria) lançam em 2013 seu mais novo registro. Intitulado “E o sentido de vida” o disco apresenta, além do Hardcore, uma veia bem Thrash Metal, tornando o registro ainda mais porrada.

Começando o disco de um jeito debulhador “Trilha do Fracasso” vem com velocidade abundante, com direito até a cavalgada no refrão. Vocal rapidíssimo, com letra que nos leva a reflexão:

“Será que tem coragem para fazer a diferença
Será que tem coragem para se desafiar
Será que tem a força pra se livrar das correntes
Será que tem coragem pra não ser mais uma alma na...

Trilha do fracasso, trilha do fracasso.

Será que vai deixar de seguir pra ser exemplo
Será que vai se deixar abalar
Será que suporta a pressão pra que desista
Às vezes a cura incomoda mais que a dor na...

Trilha do fracasso, trilha do fracasso.”

A próxima é “Homem na Roda”, não tão rápida, mas também não lenta. Vocal um pouco mais lento, mas agressivo, assim como sua antecessora, letra curta, que também serve de reflexão. Na sequência “Vai faltar chão” pega a veia Thrash e trás de volta a velocidade a nossos ouvidos. Faixa excepcional, uma das mais violenta do disco.

“Indignação” vem com um pouco menos de velocidade, mas em compensação a letra é muito bem trabalhada, merece figurar por aqui (alias, todas mereciam, mas tem que escolher algumas):

“Salário muito alto pra trocar nome de rua
Muita assessoria pra alguém que não faz nada
Sobra combustível pra uma máquina emperrada
Enquanto alunos tem lavagem ao preço do caviar

Governantes legislando em causa própria
Formando seu exército de mulas sem cabeça
Privados de cultura para nunca perceber
Massa manipulada escrava da diversão

Multas e impostos, extorquem o cidadão
Mais dinheiro sujo do que se pode lavar
Enquanto professor é transformado em subemprego
Dão condecoração a jogador de futebol

Precisam dos problemas e da imprensa sanguinária
O medo gera o voto a cada eleição
Uma vez eleito lutaria por você
Mas vive costurando acordos pra não sair do poder”

A próxima faixa “Nada vai me escravizar” é como um grito pela liberdade, que apesar de nossa vida sofrida, não sucumbiremos. Faixa feroz na letra e no som, refrão realmente potente, duvido o ritmo de “Nada vai.... me escravizar” não ecoar no cérebro durante a musica.

“Molecada” tem até trompete, mistura no mínimo inusitada, mas a questão é que dá um outro toque a musica. Quem sabe não abre a cabeça dessa “molecada” para refletir seu comportamento em relação ao mundo real. Quem sabe essa “molecada”, não se empenha em fazer algo pela cena (ou por outras coisas), falta zine de gente nova, falta banda de gente nova, falta blog de gente nova, falta gente nova colar nos eventos undergrounds/alternativos. E fica o nosso apelo. E não digam que eu não avisei, porque, logo vem “Quem mandou?”, rápida, acida e com um toque de humor em sua letra e som. Faixa no mínimo divertida de se escutar, e que com certeza vai fazer a felicidade dos “pogueiros” dos shows por ai.

E finalizando o disqueto, “Carrasco” com uma pegada mais thrash, lembrando até um pouco Dorsal Atlântica, mas não se preocupe, a musica não soa como um cover, tendo vários elementos bem próprios da banda.

Chegando ao final, temos a conclusão que a Irmã Talitha tem muito que pregar pelos porões de submundo contra-cultural do Punk/Hardcore/Metal. Indico a todos, escutem, apoiem, comprem CDs, adesivos, camisas, vão a shows.

Banda: Irmã Talitha
Disco: E o sentido da vida
Ano: 2013
Faixas
1.       Trilha do fracasso
2.       Homem na roda
3.       Vai faltar chão
4.       Indignação
5.       Nada vai me escravizar
6.       Molecada
7.       Quem mandou?

8.       Carrasco